Afasia e AVC: guia completo para fonoaudiólogos
A afasia é um distúrbio adquirido da linguagem decorrente de uma lesão cerebral, na maioria das vezes um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Ela afeta a capacidade de falar, entender, ler e/ou escrever. O fonoaudiólogo desempenha um papel central na avaliação e reabilitação da afasia, desde a fase aguda e ao longo da recuperação.
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O que é a afasia?
A afasia é um distúrbio adquirido da linguagem resultante de uma lesão cerebral. Ao contrário dos distúrbios do desenvolvimento, a afasia ocorre em uma pessoa que dominava a linguagem antes da lesão. Ela pode afetar todas as modalidades da linguagem: expressão oral, compreensão oral, leitura, escrita.
O que a afasia não é
- Não é um distúrbio da inteligência: as capacidades cognitivas podem estar preservadas
- Não é um distúrbio psiquiátrico
- Não é um distúrbio da audição
- Não é apenas "procurar as palavras" como todo mundo
Causas da afasia
O AVC é a causa mais frequente de afasia (cerca de 80% dos casos). A afasia geralmente ocorre em uma lesão do hemisfério esquerdo, dominante para a linguagem na maioria das pessoas.
Tipos de AVC
- AVC isquêmico (80%): obstrução de uma artéria cerebral
- AVC hemorrágico (20%): ruptura de um vaso sanguíneo
Outras causas
- Traumatismo craniano
- Tumor cerebral
- Doenças neurodegenerativas (afasia progressiva primária)
- Infecções cerebrais (encefalite)
Tipos de afasia
🔴 Afasia de Broca (não fluente)
Expressão: muito reduzida, agramática, falta de palavras severa. Fala lenta, esforçada. Compreensão: relativamente preservada para a linguagem simples. O paciente geralmente está ciente de suas dificuldades, o que pode gerar frustração e depressão.
🔵 Afasia de Wernicke (fluente)
Expressão: fluente, mas sem sentido, muitas parafásias (palavras deformadas ou substituídas), jargão às vezes. Compreensão: severamente afetada. O paciente geralmente tem pouca consciência de seus distúrbios (anosognosia).
🟣 Afasia global
Forma mais severa: expressão e compreensão massivamente afetadas. Frequentemente associada a uma hemiplegia direita. Pode evoluir para uma afasia de Broca com a recuperação.
🟢 Afasia de condução
Repetição seletivamente afetada. Expressão fluente com parafásias fonêmicas. Compreensão preservada. O paciente frequentemente se autocorrige (condução de aproximação).
🟡 Afasia anômica
Forma mais leve: falta de palavras isolada com expressão e compreensão globalmente preservadas. Frequentemente estágio residual após a recuperação de uma afasia mais severa.
Avaliação da afasia
Domínios avaliados
- Expressão oral: linguagem espontânea, denominação, fluência verbal, repetição
- Compreensão oral: palavras, frases, textos
- Leitura: em voz alta e compreensão
- Escrita: espontânea, sob ditado, cópia
- Praxias buco-faciais: busca de uma apraxia associada
Testes padronizados
- BDAE (Boston Diagnostic Aphasia Examination)
- MT-86
- LAST (Language Screening Test) - triagem rápida
- Token Test - compreensão
- DO-80 - denominação
Reabilitação fonoaudiológica
💡 Princípios da reabilitação
- Precoce: começar o mais rápido possível, mesmo na fase aguda
- Intensidade: a literatura mostra que a intensidade melhora os resultados
- Personalização: adaptar às necessidades e objetivos da pessoa
- Funcionalidade: visar a comunicação na vida cotidiana
- Implicação do entorno: formar os cuidadores
Abordagens reabilitativas
Abordagens linguísticas: trabalho analítico sobre os componentes da linguagem (fonologia, léxico, sintaxe). Exercícios de denominação, repetição, construção de frases.
Abordagens pragmáticas/funcionais: foco na comunicação eficaz em vez da correção linguística. PACE (Promoting Aphasics' Communicative Effectiveness), simulações.
Abordagens cognitivas: baseadas em modelos neuropsicológicos da linguagem. Focam nos processos deficitários identificados.
Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA): cadernos de comunicação, aplicativos, pictogramas para compensar os déficits.
Fases do atendimento
- Fase aguda (primeiros dias/semanas): avaliação, estimulação, CAA se necessário
- Fase subaguda (1-6 meses): reabilitação intensiva, recuperação máxima
- Fase crônica (>6 meses): manutenção, compensação, adaptação
Dicas para cuidadores
- Falar normalmente: não é necessário gritar, a audição está intacta
- Simplificar: frases curtas, uma ideia de cada vez
- Deixar tempo: não terminar as frases no lugar da pessoa
- Usar todos os canais: gestos, desenhos, escrita, imagens
- Verificar a compreensão: fazer perguntas fechadas
- Evitar a infantilização: a inteligência está preservada
- Manter a comunicação: continuar a incluir a pessoa
Nossas ferramentas para download
💬 Quadros de comunicação
Materiais para comunicar as necessidades essenciais quando a fala é impossível.
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Imagens para facilitar a evocação e a comunicação.
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Para o trabalho do léxico e da evocação.
Baixar📝 Exercícios de escrita
Materiais para a reabilitação da linguagem escrita.
BaixarPerguntas frequentes
A recuperação é variável. Algumas pessoas se recuperam completamente ou quase, outras mantêm sequelas importantes. Os fatores favoráveis incluem: afasia menos severa inicialmente, AVC de pequeno porte, atendimento precoce e intensivo, idade mais jovem, boa motivação. A recuperação é máxima nos primeiros 6 meses, mas pode continuar por anos.
Não há um número fixo. A HAS recomenda uma reabilitação intensiva (idealmente 5h/semana no mínimo na fase subaguda). Na prática, a frequência depende da gravidade, da fase, das capacidades da pessoa e da organização do sistema de saúde. A reabilitação pode durar de alguns meses a vários anos.
Isso depende do tipo de afasia. Na afasia de Broca, a compreensão é frequentemente relativamente preservada para a linguagem simples. Na afasia de Wernicke, ela está severamente afetada. Em todos os casos, fale normalmente mas de forma simples, use suportes visuais e verifique a compreensão com perguntas fechadas ou gestos.
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