Autismo não-verbal
O autismo, uma perturbação complexa do desenvolvimento, afecta cerca de 8.000 crianças todos os anos, o que sublinha a sua prevalência e importância na nossa sociedade. No entanto, é essencial reconhecer que, entre este número considerável, cada criança vive o autismo de uma forma única. As Perturbações do Espectro do Autismo (PEA) englobam diferentes subtipos, cada um com características individuais distintas, níveis de gravidade e vulnerabilidades.
As dificuldades de comunicação são uma caraterística das perturbações do espetro do autismo, uma vez que algumas pessoas são não-verbais, o que significa que têm dificuldade em comunicar verbalmente. No entanto, é importante compreender que a comunicação não-verbal não é equivalente a uma ausência total de competências de comunicação. Em vez disso, salienta a necessidade de encontrar métodos alternativos de comunicação e de adaptar o ambiente para satisfazer as necessidades específicas da criança.
Para as crianças não verbais com autismo, a exploração de ferramentas de comunicação alternativas, tais como os sistemas de comunicação aumentativa e alternativa (CAA), pode ser inestimável. Estas ferramentas englobam uma série de estratégias, desde sistemas de troca de imagens a dispositivos de alta tecnologia geradores de fala, adaptados às capacidades e preferências da criança. Além disso, a criação de um ambiente de apoio que se adapte e respeite o seu estilo de comunicação único é essencial para fomentar interacções significativas e promover o seu desenvolvimento global.
O autismo afecta frequentemente várias competências do desenvolvimento da criança. Por isso, é importante ter uma visão geral para melhor acompanhar o desenvolvimento da criança.
A criança não-verbal
Quando uma criança sofre de uma perturbação grave da comunicação, como é frequentemente o caso das crianças autistas, pode ser descrita como não verbal. Neste caso, a criança pode apresentar dificuldades como um vocabulário limitado, dificuldade em construir frases complexas ou incapacidade de utilizar a linguagem oral de forma eficaz.
Nalgumas crianças não verbais, a fala pode estar completamente ausente, ou podem usar apenas algumas palavras para expressar os seus pensamentos ou necessidades. Na ausência de competências linguísticas verbais, estas crianças recorrem principalmente a formas de comunicação não verbais, utilizando gestos, expressões faciais e linguagem corporal para se expressarem.
Além disso, o impacto das dificuldades verbais ultrapassa a mera comunicação e pode afetar vários aspectos do desenvolvimento da criança, incluindo a interação social e o progresso na escola.
A intervenção precoce é essencial para apoiar as crianças com perturbações da comunicação, fornecendo-lhes ferramentas, alternativas e estratégias para ultrapassarem eficazmente as suas dificuldades. Ao equipar estas crianças com os recursos e o apoio certos, elas podem aprender a envolver-se e a comunicar de forma significativa na sua vida quotidiana, o que promove o seu desenvolvimento e bem-estar geral.
Como é que comunicas com uma criança não-verbal?
Antes de ver como criar um diálogo com uma criança não-verbal, é importante lembrar que uma criança autista também pode ter dificuldade em relacionar-se com os outros e em expressar as suas necessidades. Estas dificuldades são específicas do autismo e não estão relacionadas com a capacidade ou incapacidade de falar. Por isso, é importante ter em conta os aspectos relacionais na comunicação com crianças autistas.
Acabámos de ver que uma criança autista não verbal pode comunicar. A comunicação pode ser feita através de diferentes canais, pelo que é importante saber qual o canal que a criança quer utilizar. Todas as crianças usam expressões faciais para se exprimirem. As expressões faciais são universais e todos podem dar-lhes um significado. Neste caso, é importante exagerar as expressões para as tornar mais óbvias para a criança.
Aplicações móveis como Mon Dico
- Descrição: As aplicações móveis como o “Mon dico” oferecem uma plataforma de comunicação interactiva e dinâmica. Podem incluir funções de texto-voz, imagens e opções de personalização para acrescentares as tuas próprias imagens (imagens da casa, imagens da criança ou do adulto, objectos preferidos, membros da família, etc.).
- Utilização: Estas aplicações são ideais para pessoas que se sentem à vontade com a tecnologia e que necessitam de um método de comunicação mais complexo e detalhado. São altamente flexíveis e podem ser adaptados às necessidades de mudança do utilizador.
Vale a pena lembrar que as crianças autistas podem ter dificuldade em reconhecer as emoções, tanto as suas como as dos outros. Podes utilizar livros ou jogos para os ajudar a aprender a reconhecê-lo. Por exemplo, na aplicação
COCO PENSA e COCO SE MEXE
encontras o jogo “Mime uma emoção”. Utilizando imagens descritivas e áudio, as crianças podem aprender a reconhecer as emoções em si próprias e nos outros. Assim, será capaz de fazer corresponder o que ouve às suas próprias emoções e às dos outros.
Eis algumas das emoções que as crianças podem aprender com as aplicações COCO THINKS e COCO MOVES:
Afeto
Inspiração
Dor
Outra solução é utilizar imagens.
As imagens podem ajudar as crianças a alargar o seu vocabulário, se este for limitado, ou podem substituir a comunicação. As imagens são fáceis de reconhecer e utilizar pelas crianças.
Existem diferentes tipos de comunicação alternativa para crianças autistas. Neste caso, é importante que a criança seja acompanhada por um terapeuta da fala que possa ensinar a criança e os pais a utilizar este tipo de comunicação. Aprender a utilizar estas ferramentas não é fácil e leva tempo, porque é como aprender uma nova língua. Tens de ser paciente e ajudar o teu filho. Será importante incorporar esta ferramenta também na escola, para que as crianças possam comunicar em todas as situações.
Quando falares com o teu filho, tenta falar suavemente e dá-lhe tempo para responder. Da mesma forma, quando é a criança que quer comunicar algo, seja com uma palavra ou mostrando uma imagem, dá-lhe tempo para se exprimir.
Quando a criança tiver terminado, podes tornar a frase mais complexa. Por exemplo, se a criança disser a palavra “água” ou apontar para a imagem da água, pode dizer: “Queres que te dê um pouco de água? Sim, toma um pouco de água”. Desta forma, a criança não só ficará feliz por ser compreendida, como também terá frases mais complexas e poderá melhorar as suas capacidades de comunicação.
Terapia da fala para crianças não verbais
Os terapeutas da fala e da linguagem desempenham um papel crucial no apoio a crianças com perturbações da linguagem ou da comunicação, incluindo as que sofrem de perturbações do espetro do autismo (ASD). É muito útil que as crianças com PEA beneficiem de serviços de terapia da fala para responder às suas necessidades específicas de comunicação.
Para as crianças não verbais com PEA, é importante reconhecer que a comunicação assume muitas formas para além da linguagem verbal. Um terapeuta da fala e da linguagem pode trabalhar com a criança para explorar métodos alternativos de comunicação, tais como sistemas de comunicação aumentativa e alternativa (AAC), linguagem gestual ou sistemas de comunicação por imagens. Ao adaptarem as intervenções às capacidades e preferências da criança, os terapeutas da fala e da linguagem facilitam uma comunicação e uma interação eficazes.
Os terapeutas da fala e da linguagem também prestam aconselhamento e apoio valiosos às famílias, oferecendo estratégias e actividades para promover o desenvolvimento da linguagem e as competências de comunicação em casa. Trabalhar com terapeutas da fala e da linguagem permite às famílias criar um ambiente de comunicação enriquecedor e implementar estratégias de comunicação eficazes adaptadas às necessidades da criança.
Em última análise, o objetivo da terapia da fala é dotar as crianças com PEA das ferramentas e competências de que necessitam para comunicar eficazmente, promovendo interacções significativas com o seu ambiente, os membros da família e os seus pares. Através de apoio e intervenção contínuos, os terapeutas da fala e da linguagem desempenham um papel essencial na melhoria da comunicação global e do funcionamento social das crianças com PEA.
As crianças não verbais e a escola
As crianças com perturbações da comunicação, incluindo as que sofrem de perturbações do espetro do autismo (PEA), podem ter dificuldades no ambiente escolar que podem ter impacto no seu desempenho académico e nas suas interacções sociais. É essencial que os educadores e o pessoal escolar compreendam e tenham em conta as necessidades únicas de comunicação destes alunos, de modo a apoiar eficazmente a sua aprendizagem e desenvolvimento.
Quando uma criança com PEA utiliza métodos alternativos de comunicação – como imagens, aplicações ou linguagem gestual – é essencial que os professores sejam informados e formados na utilização desses métodos. Isto permite-lhes facilitar a comunicação e a interação no ambiente da sala de aula e promover a inclusão de todos os alunos. Além disso, os educadores podem desempenhar um papel vital na promoção da compreensão e aceitação pelos pares de diferentes estilos de comunicação, criando um ambiente de aprendizagem inclusivo em que todos os alunos se sintam valorizados e apoiados.
É essencial adaptar as actividades da sala de aula e as avaliações ao modo de comunicação da criança para incentivar o sucesso académico e o empenho. Por exemplo, se uma criança comunica através de imagens, é importante fornecer-lhe material e tarefas que sejam apresentados visualmente, em vez de se basear apenas em texto escrito. Ao adaptarem os materiais didácticos ao modo de comunicação preferido da criança, os educadores podem melhorar a acessibilidade e garantir que a criança possa participar plenamente nas actividades de aprendizagem.
Além disso, a colaboração contínua entre educadores, terapeutas da fala e da linguagem e outros profissionais de apoio é essencial para implementar estratégias de comunicação e adaptações eficazes na sala de aula. Trabalhando em conjunto, as equipas escolares podem desenvolver planos individualizados que satisfaçam as necessidades únicas de cada criança com uma perturbação da comunicação, fomentando um ambiente de aprendizagem inclusivo que promova o sucesso académico e o desenvolvimento sócio-emocional.
COCO PENSA e COCO SE MEXE,
jogos educativos e físicos
A aplicação COCO THINKS e COCO MOVES oferece mais de 30 jogos educativos e físicos. Cada jogo tem três níveis de dificuldade e uma descrição áudio para o tornar adequado a todas as crianças.
Com Coco, podes estimular todas as funções cognitivas, como a atenção, a memória, a lógica e a linguagem.
O ouvido musical
Neste jogo, as crianças têm de ouvir e reconhecer os sons de objectos, animais e instrumentos musicais.
Este jogo estimula a escuta, que é essencial para a comunicação. Também podes estimular o vocabulário quando a criança tem de encontrar a resposta certa, mas também a linguagem se lhe pedires para reproduzir o som que acabou de ouvir.
Cozinha Coco
Neste jogo, as crianças têm de se lembrar dos ingredientes de uma receita. Cada ingrediente é representado por uma imagem, pelo que será fácil para as crianças reconhecerem todos os ingredientes e associarem as palavras aos objectos.
Podes estimular a linguagem pedindo à criança que diga o nome de um ingrediente ou que aponte para ele. Para as crianças que utilizam imagens para comunicar, é importante praticar apontar para imagens para comunicar.
Nas aplicações COCO THINKS e COCO MOVES, encontras uma série de jogos para que todas as crianças possam encontrar algo para jogar. Lembra-te que cada criança é diferente, e isso também é bom! Deves tentar adaptar o ambiente às necessidades da criança e utilizar as suas próprias capacidades para ultrapassar as dificuldades.
Pausa desportiva
Esta pausa é muito útil para as crianças não verbais, uma vez que não há necessidade de comunicar oralmente. A comunicação pode ser feita através do corpo, dos movimentos e das expressões faciais. O desporto e a atividade física quebram as barreiras linguísticas que possam existir entre as crianças.
COCO THINKS e COCO MOVES, a aplicação para a educação e a atividade física.
A aplicação COCO impõe uma pausa desportiva após 15 minutos de tempo de ecrã. Isto permite-lhes desanuviar a cabeça e concentrarem-se melhor!
Nota que também é possível utilizar a aplicação apenas para actividades desportivas, para adaptar os jogos à criança. Personaliza a sua experiência e ensina-os a concentrarem-se.
JOGOS FÍSICOS “COCO MOVES
O meu filho tem 8 anos e é autista. Tem dificuldade em estabelecer relações com os seus pares e não utiliza a linguagem. Quando ele era pequeno, o meu marido e eu ficámos confusos porque não conseguíamos comunicar com o nosso próprio filho.
A terapeuta da fala do nosso filho aconselhou-nos a usar imagens para comunicar e conseguimos criar pequenos momentos partilhados. Começámos a usar fotografias para tudo: lavar os dentes, cozinhar, vestirmo-nos… As imagens ajudam-nos nas nossas rotinas (imagem da pasta de dentes na escova de dentes, imagem da escova de dentes na boca, imagem da criança a lavar a boca), mas também quando perguntamos ao nosso filho o que ele quer.
Graças às fotografias, aprendemos muito sobre o nosso filho e melhorámos a nossa relação. O único problema é que não podíamos levar as imagens para todo o lado e o nosso filho ficava aborrecido quando não podia comunicar. A nossa terapeuta da fala recomendou a aplicação Mon Dico e, desde então, o nosso filho tem conseguido comunicar com facilidade. As imagens estão organizadas e podes adicionar muitas imagens, todas agrupadas no tablet, prontas a utilizar.
O nosso filho começou a utilizá-lo também na escola e o facto de ter um tablet atraiu a atenção dos seus colegas. No início não foi fácil, mas agora, quando os professores me dizem que o meu filho partilhou momentos com os seus colegas, fico muito feliz.
E PARA MAIS INFORMAÇÕES
E PARA MAIS INFORMAÇÕES
COCO, PARA CRIANÇAS AUTISTAS
COCO é um programa adaptado para crianças autistas que oferece uma coleção de jogos educativos e cognitivos. Os níveis de dificuldade crescentes permitem que as crianças progridam ao seu próprio ritmo. É também essencial fazer uma pausa desportiva a cada 15 minutos de tempo de ecrã para evitar a dependência.
ACOMPANHA UMA CRIANÇA AUTISTA
Neste guia, vamos dar-te conselhos práticos sobre como ajudar uma criança com autismo e como estimular e criar laços com ela. Conselhos úteis para o dia a dia para facilitar a vida dos familiares e profissionais que prestam cuidados.
FERNANDO, PARA ADULTOS AUTISTAS
Adaptado a adultos com autismo, o programa FERNANDO propõe uma série de jogos para desenvolver os conhecimentos, melhorar a concentração e reforçar as capacidades mentais. FERNANDO foi concebido para ser acessível a todos, mantendo-se ao mesmo tempo atento à saúde mental.
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